domingo, 21 de setembro de 2014

Artigos

                                                         

Cadernos de Literatura Brasileira

Lygia Fagundes Telles


Com sábia percepção e delicadeza, Fernando de Franceschi e Rinaldo Gama lançam o anzol nas águas mais profundas e vem à tona, como num deslumbramento, a escritora com os seus mistérios e perplexidades. A graça meio irônica das pequenas confissões sobre a criação literária. Os depoimentos de amigos, de críticos. E a riqueza das fotos testemunhando a vida e a obra. Revelações. Uma delas me fez rir, ah, e eu que sempre pensei que aquela pesada pronúncia de "rrrs" viesse da sua origem russa. Eu me lembro, estávamos na Universidade de Cali, na Colômbia, convidadas do Congresso Sul-Americano de Escritores. Certa manhã resolvemos fugir das conferências (tão chatas!) e gazetear pela cidade ensolarada. Aqui as "esmerraldas" são lindas, ela disse. Vamos em busca das "esmerraldas"! Lembrei que o bandeirante Fernão Dias Paes era o caçador das próprias, a inspiração devia vir dele. Pois estou "inspirrada", sorriu Clarice e lá por dentro fiquei sorrindo também, tinha nascido na Ucrânia. Essa pronúncia anasalada seria ainda a antiga marca da Rússia?...
Pois só agora, lendo o livro é que fiquei sabendo, em meio às pequenas confissões: ela contou que essa fala assim pesada era devido ao fato de ter a língua presa, podia ter feito a operação, mas ficou com medo da dor, o médico avisou que a operação era dolorida. Ora, essas minúcias!, dirá o impaciente leitor lúcido entortando a boca. Mas são esses detalhes que fazem o difícil tecido do ser humano e ainda é nos detalhes que encontramos Deus.
"Cadernos de Literatura Brasileira - Clarice Lispector", 344 págs., R$ 80,00. Ed. Instituto Moreira Salles (tel. 0/xx/11/3371-4455).



Folha de São Paulo - Revista Mais! (São Paulo) 23/01/2005


                                                 

Artigos

        A Escola de Morrer Cedo

                                  Lygia Fagundes Telles



Fomos morar no Rio, uma cidade nesse tempo tão fagueira e tão amena. Os sambistas cantavam ''a favela dos meus amores'', num tom ainda sentimental. Nem brincando se pensava então no ''crime organizado'' e, embora as desigualdades sociais fossem crescentes, a miséria não estava tão exposta. E os estudantes, embora meio amotinados, fizeram-me um convite lírico, para que eu fosse falar-lhes sobre os românticos.


 
Tarde azul. E eu ia me debruçar sobre o mais cinzento dos poetas: Álvares de Azevedo, um paulista que detestava São Paulo. E que acabou compondo com Gonçalves Dias, Fagundes Varela e Castro Alves a mais luminosa constelação da nossa escola romântica, batizada por Carlos Drummond de Andrade com um nome de inspiração máxima: a Escola de Morrer Cedo.


No século 19, a garoenta província de São Paulo tinha pouco mais de 15 mil habitantes. O casario pasmado, de austeras rótulas nas janelas baixas e telhados enegrecidos. O trânsito escasso: uma beata de mantilha negra em direção à igreja e um pai de família com o ''cebolão'' preso à corrente do bolso do colete, voltando da farmácia com as últimas novidades da ''corte''. Um burrico com os cestos no lombo, conduzido por um escravo. Os sapatos coaxando no Vale do Anhangabaú. E o silêncio.

Nas noites escuras, acendiam-se os lampiões das ruas, mas, se a noite estava clara, a cidade se iluminava apenas pela luz do luar. Depois da novena, acontecia, às vezes, um bailinho na Sociedade Concórdia. Animado mesmo era o Largo de São Francisco, mas só no período da manhã, quando os acadêmicos de Direito se reuniam no pátio da escola que fora um antigo convento franciscano.
A Escola de Morrer Cedo era freqüentada pelos moços das capas pretas, colhidos em plena juventude pelo famoso Anjo das Asas Escuras: Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu morreram com 21 anos; Junqueira Freire, com 23; Castro Alves, com apenas 24; Adelino Fontoura, com 25; Pardal Mallet e Manuel Antônio de Almeida, 30; Teófilo Dias e Raul Pompéia, 32; Martins Pena, 33; Fagundes Varela, 34; Tavares Bastos, 36; Laurindo Rabelo, 38; e Gonçalves Dias, ''o mais maduro da plêiade'', naquele naufrágio, tinha 41 anos.
 

 


Todos escolhidos para patronos das cadeiras da Academia Brasileira de Letras - aliás, quando foi fundada, já estavam mortos (não podendo provocar queixas ou mágoas nas suas escolhas) -, moços, tinham morrido com poucos anos de vida, quase todos ceifados pelo ''Mal do Século'', a tuberculose, numa época em que não havia ainda os antibióticos, e que assim muito matava.


Era a própria mocidade poética paraninfando a imortalidade acadêmica.
Na Europa desse mesmo tempo, o descabelado romantismo já estava cansando. Com o fim do ideal clássico, o homem fora eleito o novo modelo do ideal de beleza. E daí? Esgotada a taça do intimismo lírico, a tendência foi fazer uma pausa na avaliação dos exageros da intuição e da fantasia. Lord Byron e Goethe, Leopardi e Shelley, Heine e Musset, Victor Hugo e tantos outros já davam sinais de enfaro.
Mas aqui, nas lonjuras, a revolução estava apenas começando.
Pronto, eis aí os nossos poetas excitadíssimos, e entre eles o jovem que conhecia várias línguas. Era estudioso e atento, esse pálido estudante de olhar ardente, o Maneco, como Álvares de Azevedo se chamava na família. Morou numa república, mas, segundo a versão familiar, não participou da vida boêmia dessas repúblicas. Era recatado. Contemplativo, escrevia muito, estudava bastante e lia com sofreguidão, mas costumava dormir cedo. Na sua mesa-de-cabeceira, além da Bíblia, livros de Byron e Shakespeare.
Ora, infeliz parecia ser esse Maneco, nas cartas escritas à sua mãe, sobre ''essa província, onde a vida é um bocejar infinito'', mais queixas contra ''o tédio, essa terra de caipiras e de formigas''.
Infeliz o jovem byroniano parecia ser, mas apaixonado? Não tinha namoradas visíveis. Nem invisíveis, segundo testemunho dos poucos amigos, porque quem as conheceu de fato foi Castro Alves.
Medo? Do amor sexual? Quer dizer então que esse Álvares de Azevedo, um poeta tão cheio de ardências, era virgem? ''Virgentíssimo!'', respondeu Mário de Andrade.
Mas existe outra versão, corrente nas Arcadas: Álvares de Azevedo era um fingidor e um sonso. Participava das maiores farras. E depois escrevia bonzinho para mamãe, no Rio, chegando até a confessar que fizera o sinal da cruz na porta das Gomides, porque essas senhoras tinham má reputação.
O poeta Paulo Bonfim aceita as duas teses: a do romântico casto e a do boêmio pulador de janelas e muros para divertir-se nas festinhas secretas da Rua da Palha ou nos descaminhos das serenatas. ''Eu sou as duas coisas juntas'', confessava o ídolo Byron.
Maneco estava de férias no Rio quando de repente se sentiu mal. Desconfiou-se da tuberculose, com ''pulmões afetados'', como era moda na época. Mas é operado de um tumor na fossa ilíaca, numa cirurgia sem anestesia e sem um gemido, como acontecera com Castro Alves, que, sem nenhum anestésico, também não gemera naquela amputação do pé atingido por um tiro de espingarda.
Eram dois moços das capas pretas e da antiga lição greco-romana do estoicismo, ah, essa Escola de Morrer Cedo.
No presságio de sua morte, e sabendo que morria muito jovem, Maneco quer poupar a mãe e pede-lhe que saia do quarto do hospital. E aperta a mão do pai: ''Que fatalidade, meu pai!''

Jornal do Brasil (Rio de Janeiro) 25/05/2005
                                                
 





Lygia Fagundes Telles

(...) "Com a ponta da língua pude sentir a semente apontando
sob a polpa. Varei-a. O sumo ácido inundou-me a boca. Cuspi
a semente: assim  queria escrever, indo ao âmago do âmago
até atingir a semente resguardada lá no fundo como um feto".
(Verde lagarto amarelo)



Quarta filha do casal Durval de Azevedo Fagundes e Maria do Rosário Silva Jardim de Moura, nasce na capital paulista, em 19 de abril de 1923, Lygia de Azevedo Fagundes, na rua Barão de Tatuí. Seu pai, advogado, exerceu os cargos de delegado e promotor público em diversas cidades do interior paulista (Sertãozinho, Apiaí, Descalvado, Areias e Itatinga), razão porque a escritora passa seus primeiros anos da infância mudando-se constantemente. Acostuma-se a ouvir histórias contadas pelas pajens e por outras crianças. Em pouco tempo, começa a criar seus próprios contos e, em 1931, já alfabetizada, escreve nas últimas páginas de seus cadernos escolares as histórias que irá contar nas rodas domésticas. Como ocorreu com todos nós, as primeiras narrativas que ouviu falavam de temas aterrorizantes, com mulas-sem-cabeça, lobisomens e tempestades.


Seu pai gostava de freqüentar casas de jogos, levando Lygia consigo "para dar sorte". Diz a escritora: "Na roleta, gostava de jogar no verde. Eu, que jogo na palavra, sempre preferi o verde, ele está em toda a minha ficção. É a cor da esperança, que aprendi com meu pai."
Em 1936 seus pais se separam, mas não se desquitam.
Porão e sobrado é o primeiro livro de contos publicado pela autora, em 138, com a edição paga por seu pai. Assina apenas como Lygia Fagundes.
No ano seguinte termina o curso fundamental no Instituto de Educação Caetano de Campos, na capital paulista. Ingressa, em 1940, na Escola Superior de Educação Física, naquela cidade. Ao mesmo tempo, freqüenta o curso pré-jurídico, preparatório para a Faculdade de Direito do Largo do São Francisco.
Inicia o curso de Direito em 1941, freqüentando as rodas literárias que se reuniam em restaurantes, cafés e livrarias próximas à faculdade. Ali conhece Mário e Oswald de Andrade, Paulo Emílio Sales Gomes, entre outros, e integra a Academia de Letras da Faculdade e colabora com os jornais Arcádia e A Balança. Para se sustentar, trabalha como assistente do Departamento Agrícola do Estado de São Paulo. Nesse ano conclui o curso de Educação Física.


Praia viva, sua segunda coletânea de contos, é editada em 1944 pela Martins, de São Paulo. O ano de 1945 marca o ano de falecimento de seu pai. Atenta aos acontecimentos políticos, Lygia participa, com colegas da Faculdade, de uma passeata contra o Estado Novo.
Terminado o curso de Direito, em 1946, só três anos depois a escritora publica, pela editora Mérito, seu terceiro livro de contos, O cacto vermelho. O volume recebe o Prêmio Afonso Arinos, da Academia Brasileira de Letras.
 
Casa-se com o jurista Goffredo da Silva Telles Jr., seu professor na Faculdade de Direito que, na ocasião,1950, era deputado federal. Muda-se, em virtude desse fato, para o Rio de Janeiro, onde funcionava a Câmara Federal.
Com seu retorno à capital paulista, em 1952, começa a escrever seu primeiro romance, Ciranda de pedra. Na fazenda Santo Antônio, em Araras - SP, de propriedade da avó de seu marido, para onde viaja constantemente, escreve várias partes desse romance. Essa fazenda ficou famosa na década de 20, pois lá reuniam-se os escritores e artistas que participaram do movimento modernista, tais como Mário e Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Mafaldi e Heitor Villa-Lobos
 

Maria do Rosário, sua mãe, falece em 1953 e, no ano seguinte, nasce seu único filho, Goffredo da Silva Telles Neto. As Edições O Cruzeiro, do Rio de Janeiro, lançam Ciranda de pedra.
Seu livro de contos, Histórias do desencontro, é publicado pela editora José Olympio, do Rio de Janeiro, e é premiado pelo Instituto Nacional do Livro, em 1958.
Em 1960 separa-se de seu marido Goffredo e, no ano seguinte, começa a trabalhar como procuradora do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo.
Dois anos depois lança, pela editora Martins, de São Paulo, seu segundo romance, Verão no aquário. Passa a viver com Paulo Emílio Salles Gomes e começa a escrever o romance As meninas, inspirado no momento político por que passa o país.


Em 1964 e 1965 são publicados seus livros de contos Histórias escolhidas eO jardim selvagem, respectivamente, pela editora Martins.
A convite do cineasta Paulo César Sarraceni e em parceria com Paulo Emílio Salles Gomes, em 1967, faz a adaptação para o cinema do romance D. Casmurro, de Machado de Assis. Esse trabalho foi publicado, em 1993, pela editora Siciliano, de São Paulo, sob o título de Capitu.

Seu livro de contos Antes do baile, publicado pela Bloch, do Rio de Janeiro, em 1970, recebe o Grande Prêmio Internacional Feminino para Estrangeiros, na França.
O lançamento, em 1973, pela José Olympio, de seu terceiro romance, As meninas, é um sucesso. A escritora arrebata todos os prêmios literários de importância no país: o Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras, o Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro e o de "Ficção" da Associação Paulista de Críticos de Arte.


Seminário de ratos, contos, é publicado em 1977 pela José Olympio e recebe o prêmio da categoria Pen Club do Brasil. Nesse ano participa da coletâneaMissa do Galo: variações sobre o mesmo tema, livro organizado por Osman Lins a partir do conto clássico de Machado de Assis. Integra o corpo de jurados do Concurso Unibanco de Literatura, ao lado dos escritores e críticos literários Otto Lara Resende, Ignácio de Loyola Brandão, João Antônio, Antônio Houaiss e Geraldo Galvão Ferraz.
Em setembro desse ano, falece Paulo Emílio Salles Gomes. A escritora assume, face ao ocorrido, a presidência da Cinemateca Brasileira, que Paulo Emílio ajudara a fundar.


Em 1978 a editora Cultura, de São Paulo, lança Filhos pródigos. Essa coletânea de contos seria republicada a partir de 1991 sob o título A estrutura da bolha de sabão. A TV Globo leva ao ar um Caso Especialbaseado no conto  "O jardim selvagem".
Sua editora no período de 1980 até 1997, a Nova Fronteira, do Rio de Janeiro publica A disciplinado amor. No ano seguinte lança Mistérios, uma coletânea de contos fantásticos. A TV Globo transmite a telenovela Ciranda de pedra, adaptada de seu romance.


Em 1982 é eleita para a cadeira 28 da Academia Paulista de Letras e, em 1985, por 32 votos a 7, é eleita, em 24 de outubro, para ocupar a cadeira 16 da Academia Brasileira de Letras, fundada por Gregório de Mattos, na vaga deixada por Pedro Calmon. Sua posse só ocorre em 12 de maio de 1987. Ainda em 1985 é agraciada com a medalha da Ordem do Rio Branco.
1989 é o ano de lançamento de seu romance As horas nuas. Recebe a Comenda Portuguesa Dom Infante Santo. Em 1990 seu filho, Goffredo Neto, realiza o documentário Narrarte, sobre a vida e a obra da mãe. Em 1991 aposenta-se como funcionária pública.
A Rede Globo de Televisão apresenta, em 1993, dentro da série Retratos de mulher, a adaptação da própria escritora do seu conto "O moço do saxofone", que faz parte do livro Antes do baile verde, num episódio denominado "Era uma vez Valdete".


Participa da Feira o Livro de Frankfurt, na Alemanha, em 1994, e lança, no ano seguinte, um novo livro de contos, A noite escura e mais eu, que ganhou os prêmios de Melhor livro de contos, concedido pela Biblioteca Nacional; Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro e Prêmio APLUB de Literatura.

Em 1996 estréia o filme As meninas, de Emiliano Ribeiro, baseado em romance homônimo de Lygia. Em 1997 participa da série O escritor por ele mesmo, do Instituto Moreira Salles. A editora Rocco adquire os direitos de publicação de toda a obra passada
e futura da escritora.
Em 1998, a convite do governo francês, participa do Salão do Livro da França.

Seu livro Invenção e Memória foi agraciado com o Prêmio Jabuti, na categoria ficção, em 2001. Recebe, também, o "Golfinho de Ouro" e o Grande Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte.

Agraciada, em março de 2001,com o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Brasília (UnB).
Em 2005, recebe o Prêmio Camões, o mais importante da literatura em língua portuguesa.

OBRAS DA AUTORA
Individuais

Contos:

Porão e sobrado, 1938
Praia viva, 1944
O cacto vermelho, 1949
Histórias do desencontro, 1958
Histórias escolhidas, 1964
O jardim selvagem, 1965
Antes do baile verde, 1970
Seminário dos ratos, 1977
Filhos pródigos, 1978 (reeditado como A estrutura da bolha de sabão, 1991)
A disciplina do amor, 1980
Mistérios, 1981
A noite escura e mais eu, 1995
Venha ver o por do sol
Oito contos de amor
Invenção e Memória, 2000 (Prêmio Jabuti)
Durante aquele estranho chá: perdidos e achados, 2002
Meus contos preferidos, 2004
Histórias de mistério, 2004
Meus contos esquecidos, 2005
Romances:
Ciranda de pedra, 1954
Verão no aquário, 1963
As meninas, 1973
As horas nuas, 1989
Antologias:
Seleta, 1971 (organização, estudos e notas de Nelly Novaes Coelho)

Lygia Fagundes Telles, 1980 (organização de Leonardo Monteiro)

Os melhores contos de Lygia F. Telles, 1984 (seleção de Eduardo Portella)

Venha ver o pôr-do-sol, 1988 (seleção dos editores - Ática)

A confissão de Leontina e fragmentos, 1996 (seleção de Maura Sardinha)

Oito contos de amor, 1997 (seleção de Pedro Paulo de Sena Madureira)

Pomba enamorada, 1999 (seleção de Léa Masima).
Participações em coletâneas:
Powered By BRApp×Gaby, 1964 (novela - in Os sete pecados capitais - Civilização Brasileira)

Trilogia da confissão, 1968 (Verde lagarto amarelo, Apenas um saxofone e Helga - in Os 18 melhores contos do Brasil -Bloch Editores)

Missa do galo, 1977 (in Missa do galo: variações sobre o mesmo tema - Summus)

O muro, 1978 (in Lições de casa - exercícios de imaginação -Cultura)

As formigas, 1978 (in O conto da mulher brasileira - Vertente)

Pomba enamorada, 1979 (in O papel do amor - Cultura)

Negra jogada amarela, 1979 (conto infanto-juvenil - in Criança brinca, não brinca? - Cultura)

As cerejas, 1993 (in As cerejas - Atual)

A caçada, 1994 (in Contos brasileiros contemporâneos - Moderna)

A estrutura da bolha de sabão e As cerejas, s.d. (in O conto brasileiro contemporâneo - Cultrix)
Crônicas publicadas na imprensa:
Não vou ceder. Até quando?. O Estado de São Paulo - 06-01-92
Pindura com um anjo. Jornal da Tarde - 11-08-96
Traduções:
Para o alemão:

- Filhos pródigos, 1983
- As horas nuas, 1994
- Missa do galo, 1994

Para o espanhol:

- As meninas, 1973
- As horas nuas, 1991

Para o francês:

- Filhos pródigos, 1986
- Antes do baile verde, 1989
- As horas nuas, 1996
- W. M., 1991
- Invenção e Memória, 2003
Para o inglês:

- As meninas, 1982
- Seminário dos ratos, 1986
- Ciranda de pedra, 1986

Para o italiano:

- As pérolas, 1961
- As horas nuas, 1993
Para o polonês:

- A chave, 1977
- Ciranda de pedra, 1990 (traduzido também para o chinês e espanhol).
Para o sueco:
- As horas nuas, 1991
Para o tcheco:
- Antes do baile verde, s.d. (traduzido também para russo)
Edições em Portugal:
- Antes do baile verde, 1971
- A disciplina do amor, 1980
- A noite escura e mais eu, 1996
- As meninas, s.d.
Para o cinema:
- Capitu (roteiro); parceria com Paulo Emílio Salles Gomes, 1993 (Siciliano).

- As meninas (adaptação), 1996
Para o teatro:
As meninas, 1988 e 1998

Para a televisão:
- O jardim selvagem, 1978 (Caso especial - TV Globo)
- Ciranda de pedra, 1981 (Novela - TV Globo)
- Era uma vez Valdete, 1993 (Retratos de mulher - TV Globo)
PRÊMIOS:
Prêmio do Instituto Nacional do Livro (1958) 
Prêmio Guimarães Rosa (1972) 
Prêmio Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras (1973) 
Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (1980) 
Prêmio Pedro Nava, de Melhor Livro do Ano (1989)
Melhor livro de contos, Biblioteca Nacional 
Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro 
Prêmio APLUB de Literatura
Prêmio Jabuti (Ficção) (2001)
Prêmio Camões (2005)
 
 





 





sábado, 13 de setembro de 2014

exemplo hipotético de manifesto:



                                  Manifesto dos Estudantes Universitários de Oblivion



             
Nós, estudantes de universidades públicas e privadas de Oblivion, descontentes com as atuais políticas de ensino deste país, contestamos algumas práticas que parecem ter se transformado em uma espécie de “engessamento” da academia, para a qual, mais importante do que a divulgação do conhecimento e o estímulo à pesquisa, o ensino tem sido pautado na simples exaltação dos antigos e tradicionais teóricos, colocando-os em conta de verdadeiros detentores do conhecimento, como se este já estivesse de todo pronto, encerrado nas páginas de uma enciclopédia. O mesmo tem se verificado em relação à metodologia científica utilizada em nossas intituições de ensino superior, a qual, atualmente, está completamente estagnada.

Aparentemente regidos por ideias retrógradas, os professores demonstram estar avessos às transformações por que passam as ciências e a tecnologia, uma vez que se limitam a trabalhar com autores que, apesar de dignos de estima e respeito, já estão sendo substituídos na bibliografia utilizada em cursos equivalentes aos nossos, que são realizados em universidades de outros países. Por esse motivo, os títulos dos trabalhos científicos desenvolvidos por alunos e professores, bem como seu conteúdo, já nada podem apresentar de original, tornando-nos meros reprodutores do conhecimento do passado, algo que fere profundamente a finalidade maior das universidades: contribuir para o progresso social e tecnológico de sua nação.

Nas áreas biológicas e tecnológicas, a situação é mais grave, pois a falta de laboratórios e investimento, caso não cause vergonha quando confrontada com a realidade de outras universidades do mundo, é o suficiente para tornar inviável o desenvolvimento de pesquisas que sejam capazes de contribuir com a formação de profissionais atualizados e prontos a atender à realidade do mercado de trabalho fora das universidades, assim como para produzir algo que todo país desenvolvido esforça-se para ter, o chamado know how, o qual, inclusive, pode ser vendido a outros países. Hoje, contudo, Oblivion é obrigada a pagar profissionais do exterior e a ceder a pressões de muitas multinacionais, justamente pelo fato de, possuindo recursos naturais invejáveis, não dispor de mão de obra nem tecnologia qualificada para explorá-los de forma segura e sustentável. 

Considerando, portanto, que o país necessita urgentemente reavaliar suas políticas voltadas ao ensino, a fim de equiparar-se com a realidade universitária dos países que têm servido como referência na produção de conhecimento e tecnologia, de nossa parte, propomos a reformulação dos currículos de todos os cursos, bem como a reforma e melhoria dos laboratórios de todas as áreas às quais estes se mostram imprescindíveis.

Convidamos os professores que simpatizem com essa causa, empresários e representantes de instituições que dependam diretamente da qualidade dos profissionais de formação universitária, bem como a sociedade civil como um todo, a aderir a este movimento, expressando sua opinião e participando também com sugestões para melhoria da qualidade de ensino de nosso país.
UNEO – União Nacional dos Estudantes de Oblivion  
Oblivília, 30 de fevereiro de 2012.

Exemplo de Manifesto


  • Acabamos de comemorar o menor desmatamento da Floresta Amazônica dos últimos três anos: 17 mil quilômetros quadrados. É quase a metade da Holanda. Da área total já desmatamos 16%, o equivalente a duas vezes a Alemanha e três Estados de São Paulo. Não há motivo para comemorações. A Amazônia não é o pulmão do mundo, mas presta serviços ambientais importantíssimos ao Brasil e ao Planeta. Essa vastidão verde que se estende por mais de cinco milhões de quilômetros quadrados é um lençol térmico engendrado pela natureza para que os raios solares não atinjam o solo, propiciando a vida da mais exuberante floresta da terra e auxiliando na regulação da temperatura do Planeta.


  • Depois de tombada na sua pujança, estuprada por madeireiros sem escrúpulos, ateiam fogo às suas vestes de esmeralda abrindo passagem aos forasteiros que a humilham ao semear capim e soja nas cinzas de castanheiras centenárias. Apesar do extraordinário esforço de implantarmos unidades de conservação como alternativas de desenvolvimento sustentável, a devastação continua. Mesmo depois do sangue de Chico Mendes ter selado o pacto de harmonia homem/natureza, entre seringueiros e indígenas, mesmo depois da aliança dos povos da floresta “pelo direito de manter nossas florestas em pé, porque delas dependemos para viver”, mesmo depois de inúmeras sagas cheias de heroísmo, morte e paixão pela Amazônia, a devastação continua.


  • Como no passado, enxergamos a Floresta como um obstáculo ao progresso, como área a ser vencida e conquistada. Um imenso estoque de terras a se tornarem pastos pouco produtivos, campos de soja e espécies vegetais para combustíveis alternativos ou então uma fonte inesgotável de madeira, peixe, ouro, minerais e energia elétrica. Continuamos um povo irresponsável. O desmatamento e o incêndio são o símbolo da nossa incapacidade de compreender a delicadeza e a instabilidade do ecossistema amazônico e como tratá-lo.


  • Um país que tem 165.000 km2 de área desflorestada, abandonada ou semi-abandonada, pode dobrar a sua produção de grãos sem a necessidade de derrubar uma única árvore. É urgente que nos tornemos responsáveis pelo gerenciamento do que resta dos nossos valiosos recursos naturais.


  • Portanto, a nosso ver, como único procedimento cabível para desacelerar os efeitos quase irreversíveis da devastação, segundo o que determina o § 4º, do Artigo 225 da Constituição Federal, onde se lê:
    "A Floresta Amazônica é patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais"

  • Assim, deve-se implementar em níveis Federal, Estadual e Municipal A INTERRUPÇÃO IMEDIATA DO DESMATAMENTO DA FLORESTA AMAZÔNICA. JÁ!
    É hora de enxergarmos nossas árvores como monumentos de nossa cultura e história.
    SOMOS UM POVO DA FLORESTA!

Manifesto

Dentre os chamados gêneros argumentativos, figura-se o manifesto, cuja característica principal é expor ideias referentes a um assunto, compartilhadas por um grupo de pessoas.

Mas voltando à forma da qual se constitui, essa geralmente se apresenta assim:

* Título – o qual normalmente sintetiza o assunto, o pensamento abordado;

* Corpo do texto – esclarece os posicionamentos dos autores, sendo esses alicerçados em argumentos que realmente os justifiquem;

* Local, data e assinatura dos manifestantes.

 

 

Voltando à questão expressa pela dinamicidade de determinados gêneros, o manifesto não ficou aquém dessa realidade. Prova disso é o Manifesto 2000, o qual poderia ser assinado de forma coletiva. Por decisão da UNESCO, cada assinante resolveu declarar em primeira pessoa o seu compromisso com uma sociedade mais justa e mais igualitária, na qual prevalece o instinto de paz, solidariedade, tolerância e justiça. Assim, de modo a ilustrarmos essa questão, que tal conferi-lo mais de perto?

O Manifesto 2000 pela paz

Reconhecendo a minha cota de responsabilidade com o futuro da humanidade, especialmente com as crianças de hoje e as das gerações futuras, eu me comprometo em minha vida diária, na minha família, no meu trabalho, na minha comunidade, no meu país e na minha região – a:

Respeitar a vida e a dignidade de cada pessoa, sem discriminação ou preconceito;

Praticar a não violência ativa, rejeitando a violência sob todas as suas formas: física, sexual, psicológica, econômica e social, em particular contra os grupos mais desprovidos e vulneráveis como as crianças e os adolescentes;

Compartilhar o meu tempo e meus recursos materiais em um espírito de generosidade visando o fim da exclusão, da injustiça e da opressão política e econômica; Defender a liberdade de expressão e a diversidade cultural, dando sempre preferência ao diálogo e a escuta do que ao fanatismo, a difamação e a rejeição do outro;

Promover um comportamento de consumo que seja responsável e práticas de desenvolvimento que respeitem todas as formas de vida e preservem o equilíbrio da natureza no planeta;

Contribuir para o desenvolvimento da minha comunidade, com a ampla participação da mulher e o respeito pelos princípios democráticos, de modo a construir novas formas de solidariedade.